Anozero”19. A bienal de Coimbra que guia a cidade para capital da Cultura
São 39 artistas provenientes de 21 países que entre novembro e dezembro vão tomar conta da cidade. A terceira edição da Anozero-bienal de Coimbra promete ser “um furacão” cultural, com 20 obras comissionadas.
A história desta terceira edição da bienal de Coimbra começa a contar-se em 1962, quando a maior parte dos envolvidos ainda nem sequer tinha nascido. Como? Através do conto “A Terceira Margem do Rio”, de João Guimarães Rosa, um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX. É essa obra, afinal, que empresta o título “A Terceira Margem”, à edição deste ano da bienal de Coimbra. Ali se conta (pela voz do filho) a história de um pai que, vivendo numa aldeia junto ao rio, decide mandar construir uma canoa para nele entrar e nunca mais voltar a sair. “A autorreclusão a céu aberto, decisão individual do protagonista para a qual não oferece nenhuma explicação à família ou à comunidade, configura um gesto radical de ocupação irreversível. É esse gesto que define o território, tremendo, instável, insondável e indizível, da terceira margem, que é a nossa contemporaneidade”.
É assim que Carlos Antunes, diretor do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), descreve a base desta Terceira Margem, uma organização que divide com a Câmara Municipal, a Universidade de Coimbra e o Turismo do Centro. Esta quarta-feira, quando apresentavam aos jornalistas a terceira edição da bienal, o trio estava convencido de que será uma forma de colocar Coimbra na agenda nacional e internacional, com o filão da capital europeia da Cultura, cuja candidatura está em marcha para 2027. De resto, a terceira edição consegue mesmo extravasar as fronteiras da europa, a começar pelo escritor-mentor do título, bem defendido pelo curador, o brasileiro Agnaldo Farias.
Nos corredores labirínticos do velho Mosteiro de Santa Clara a Nova – que (des)espera pela recuperação – Agnaldo assobia uma canção de António Carlos Jobim, “Lígia”, dedicada à curadora-adjunta, Lígia Afonso, que divide esse papel secundário com Nuno de Brito Rocha. Está dado o mote para a mais internacional das edição da bienal, que além de ocupar o antigo convento vai espraiar-se pelas ruas do centro da cidade (edifício Chiado, Sala da Cidade e Galerias Avenida), edifícios da universidade de Coimbra (Colégio das Artes e Museu da Ciência – Laboratório Chimico e Galeria de História Natural) e ainda pelos espaços do Círculos de Artes Plásticas de Coimbra – Sede e Sereia.
“O espaço público é uma parte fundamental da bienal”, lembra Carlos Antunes, sem descurar qualquer um dos outros nove espaços que vão receber três pilares da bienal: exposição, programa de ativação livro. O envolvimento da universidade assume aqui um papel importante para a organização, tanto mais que o programa de ativação é desenvolvido pelos alunos de mestrado em estudos curatoriais do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, em colaboração com a esfera CAPC
A Terceira Margem – cujo orçamento ronda meio milhão de euros, suportados em 75% pela Câmara Municipal DGArtes e Universidade, e o restante por dois mecenas – arranca no dia 02 de novembro e estende-se até 29 de dezembro. “É um furacão, que nos traz cosmopolitismo”, considerou Pedro Machado, presidente da Entidade Regional de Turismo, que olha para esta bienal como uma parte do ADN da região centro, numa altura em que os números mostram que é aquela que mais cresce no país, no plano turístico. De resto, bem pode ser um dos projetos-âncora da candidatura à criação de um roteiro turístico a património mundial, em que Coimbra aparece ao lado de Tomar, Alcobaça e Batalha.
Curadores e artistas
O professor de arquitetura e crítico de arte Agnaldo Farias assume a curadoria desta bienal depois de somar várias experiências similares no Brasil, Equador, Itália ou África do Sul. Já foi curador geral do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e também de exposições temporárias no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Há 10 anos que trabalha de perto nestes projetos com a portuguesa Lígia Afonso, investigadora do Instituto de História da Arte e professora na ESAD – Escola Superior de Arte e Design e na FCSH – Universidade Nova de Lisboa. Traz com ela a experiência da 29ª bienal de São Paulo e também do laboratório de curadoria de Guimarães (2012), capital europeia da Cultura. Junta-se a eles Nuno de Brito Rocha, que trabalha atualmente no Museu de Arte Moderna de Berlim.
Do leque de artistas fazem parte nomes nacionais e internacionais com créditos firmados no plano cultural. Na apresentação do programa, Lígia Afonso sublinhava “o naipe de artistas com percurso extraordinário, muitos deles poucos conhecidos em Portugal”. Fazem parte da lista completa Alexandra Pirici – Ana María Montenegro – Ana Vaz – Anna Boghiguian – António Olaio – Belén Uriel – Bouchra Khalili – Bruno Zhu – Cadu – Daniel V. Melim – Daniel Senise – David Claerbout – Eugénia Mussa – Joanna Piotrowska – João Gabriel – João Maria Gusmão + Pedro Paiva – José Bechara – José Spaniol – Julius von Bismarck – Laura Vinci – Luís Lázaro Matos – Luis Felipe Ortega – Lynn Hershman Leeson – Magdalena Jitrik – Maria Condado – Mariana Caló and Francisco Queimadela – Marilá Dardot – Mattia Denisse – Maya Watanabe – Meriç Algün – Przemek Pyszczek – Renato Ferrão – Rita Ferreira -Steve McQueen – Susan Hiller – Tomás Cunha Ferreira.
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